Uma grande aula de jornalismo, mas também de
representatividade, empoderamento e responsabilidade social. Essa foi a tônica
da penúltima mesa do XIII Controversas, que trouxe de volta ao casarão rosa do
IACS a jornalista Flávia Oliveira, formada em Comunicação Social pela UFF em
1992, para debater com os futuros colegas de profissão o papel social do
jornalista.
Pela primeira vez o tradicional evento de
jornalismo do IACS teve a mediação dos alunos, e os temas abordados durante a
mesa foram tão diversos quanto o currículo de Flávia Oliveira. Em pauta, a
importância cultural e econômica do samba, a polêmica criação da editoria de
guerra do jornal O Extra, os desafios que o jornalista enfrenta na cobertura de
economia, racismo, machismo e falta de representatividade na profissão e na
escolha das fontes.
Flávia Oliveira foi um dos destaques do 2º dia do Controversas (Foto: Julliana Martins) |
Precarização nas
relações de trabalho
Desde que foi demitida do jornal O Globo, em
2015, a jornalista se divide entre as funções de colunista no mesmo periódico,
comentarista de economia no “Estúdio i”, da Globonews, e no “CBN Rio”, na rádio
CBN. Além disso, Flávia ainda encontra tempo para apresentar a temporada de
2017 do programa “TED: Compartilhando ideias”, no Canal Futura, e é membro dos
conselhos consultivos da Anistia Internacional Brasil, e da ONG Uma Gota no
Oceano, do Instituto Coca-Cola Brasil. Também integra a comissão de matriz
africana do Museu do Amanhã, no Rio.
Se por um lado a versatilidade faz com que
Flávia seja uma profissional admirada no mercado, por outro expõe uma
característica dos novos tempos para os jornalistas: a precarização das
relações de trabalho. A jornalista lançou seu olhar adiante para dizer que o
jornalismo tem futuro, mas que o profissional da área será cada vez mais
obrigado a ser “multitarefas” para se manter empregado.
Para Flávia, a nova realidade da profissão, de
menor estabilidade no trabalho, transforma a relação do jornalista não só com a
profissão, mas com o próprio corpo. “Com a desregulamentação, vocês têm que ter
em mente desde se alimentar melhor e não ficar rouco, por exemplo, até pensar
em seguro de vida, previdência, em guardar dinheiro desde o início da carreira”,
recomendou.
Racismo e machismo na
profissão: “Duvido que tenha uma mulher no mercado jornalístico que não tenha
enfrentado uma situação de assédio sexual”.
Um dos pontos altos da mesa ocorreu quando
Flávia foi perguntada sobre assédio e racismo na profissão. A jornalista é uma
exceção em uma área do jornalismo onde predomina o perfil do comentarista homem
e branco. Ao falar sobre representatividade negra na profissão foi taxativa:
“Representatividade não há. Isso é fato. E como eu sou sempre citada como a
jornalista negra, eu sou exceção e confirmo a regra e a invisibilidade”.
Flávia surpreendeu a plateia ao revelar que
sofreu assédio sexual e racismo em diversas oportunidades, ao longo de sua
trajetória. Contou que uma vez foi confundida com uma prostituta pelo
recepcionista de um hotel, em Brasília, durante uma viagem de trabalho. “Eu
fiquei muito mal, chorei muito. Na época, fiquei pensando que devia ter algo de
errado com a minha roupa para ele pensar isso. Levou tempo para eu entender o
que realmente tinha acontecido”, contou.
O episódio lamentável foi uma das diversas
dificuldades que a menina criada no bairro de Irajá, Zona Norte do Rio,
enfrentou para construir sua carreira. Ao final da mesa, as palmas da plateia
foram entusiasmadas, e ficou para os estudantes a certeza de que a resistência
e a inquietude são as matérias-primas para que o jornalista entenda que o
compromisso com as questões sociais é intrínseco à escolha da profissão.
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