Por Álvaro Danezine
Um debate sobre tendências para o fotojornalismo encerrou
o primeiro dia do Controversas. Além de responder perguntas dos
alunos-mediadores e da plateia, os fotojornalistas Márcia Foletto, do Globo, e
Fábio Caffé, dos coletivos Favela em Foco e Folia de Imagens, exibiram
produções e contaram bastidores dos trabalhos exibidos.
Márcia falou sobre o perigo que muitas vezes correu para
registrar as mazelas do estado do Rio de Janeiro, como na foto abaixo,
capturada durante a inauguração de uma via de trem que passa pela favela do
Jacarezinho. Ao passar pela comunidade, a fotógrafa conta que o trem foi alvo
de tiros. No entanto, ao contrário dos presentes na fotografia, ela permaneceu
em pé.
Flagrante do momento em que trem é atingido por tiroteio, ao passar pela favela do Jacarezinho, no dia de sua inauguração (Foto: Márcia Foletto) |
“Quando a gente está com uma câmera
na mão, muitas vezes não percebe o perigo ou o risco que corre diante de uma
situação (...). Com a câmera, parecia que eu estava protegida. Aquela coisa de
criança que se esconde, tapa o rosto e acha que não é vista. Quando o trem
parou, eu vi que uma bala entrou no trem a menos de trinta centímetros de onde
eu estava”, contou.
Desde
1991, Marcia Folleto trabalha na cobertura do cotidiano da cidade do Rio de
Janeiro para o O Globo, além de produzir matérias especiais. Entre as
premiações conquistados pela fotojornalista estão os prêmios Finep, CNT e
Petrobras de Jornalismo, este último conquistado este ano.
Formado
pela Escola de Fotógrafos Populares e graduado em Cinema pela UFF, o convidado
Fábio Caffé é integrante do coletivo multimídia Favela em Foco. Fez parte do
projeto Imagens do Povo entre 2007 e 2016. O fotodocumentarista já participou
de exposições coletivas ao redor do Brasil e realizou uma exposição individual
na Escócia em 2011.
Reconhecido
pelo foco social de seu trabalho, Caffé falou sobre a formação do Coletivo
Favela em Foco, fundado em 2009. O grupo vem registrando a vida cotidiana, as
belezas, os fazeres e também as desigualdades e mudanças sofridas pela cidade do
Rio de Janeiro, como é o caso da barreira acústica construída em frente à
Favela da Maré.
“O
coletivo surge em 2009, por coincidência, no mesmo ano da fundação se
comemorava os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Depois da fundação, fizemos
essa leitura e esse paralelo com a queda do muro, pois nesse mesmo ano a
prefeitura do Rio de Janeiro criava uma barreira acústica saindo da linha
vermelha para tampar a Favela da Maré. A gente discute muito a intenção de
esconder a favela. A ideia era que, à primeira vista, o turista não visse a
Maré".
O
trabalho do coletivo de 2009 até os dias atuais pode ser visto no Coletivo
Favela em Foco.
Além de
fotos dos coletivos dos quais participa, Caffé exibiu o curta-metragem
realizado pelo fotógrafo e cineasta Léo Lima, também integrante do Favela em
Foco sobre um morador conhecido da favela do Jacarezinho, o vendedor de cloro
Gerci de Melo Alves.
Fotojornalismo
X Smartphones
Frente à
velocidade da informação trazida pela tecnologia, com os smarthphones e a
própria internet, os profissionais convidados comentaram como o fotojornalismo
tem se adequado, em alguns momentos se aliado, às inovações.
Marcia
Foletto estabeleceu uma diferença entre os tipos de registros feitos pela
população comum, através de smartphones, e o trabalho dos fotojornalistas.
“Hoje em dia todo mundo é fotográfo. Você tem quinhentos mil celulares e em
qualquer lugar que você vai todo mundo registra a cena. Agora, como você vai
trazer naquela cena uma imagem que seja relevante e que não fique no primeiro
plano? Esse é o nosso trabalho. Buscar essa estética que não é o que o olhar
comum está vendo.”
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