quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Fotojornalismo: tendências, riscos e impactos

Por Álvaro Danezine

Um debate sobre tendências para o fotojornalismo encerrou o primeiro dia do Controversas. Além de responder perguntas dos alunos-mediadores e da plateia, os fotojornalistas Márcia Foletto, do Globo, e Fábio Caffé, dos coletivos Favela em Foco e Folia de Imagens, exibiram produções e contaram bastidores dos trabalhos exibidos.

Márcia falou sobre o perigo que muitas vezes correu para registrar as mazelas do estado do Rio de Janeiro, como na foto abaixo, capturada durante a inauguração de uma via de trem que passa pela favela do Jacarezinho. Ao passar pela comunidade, a fotógrafa conta que o trem foi alvo de tiros. No entanto, ao contrário dos presentes na fotografia, ela permaneceu em pé.

Flagrante do momento em que trem é atingido por tiroteio, ao passar pela
favela do Jacarezinho, no dia de sua inauguração (Foto: Márcia Foletto)
“Quando a gente está com uma câmera na mão, muitas vezes não percebe o perigo ou o risco que corre diante de uma situação (...). Com a câmera, parecia que eu estava protegida. Aquela coisa de criança que se esconde, tapa o rosto e acha que não é vista. Quando o trem parou, eu vi que uma bala entrou no trem a menos de trinta centímetros de onde eu estava”, contou.

Desde 1991, Marcia Folleto trabalha na cobertura do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro para o O Globo, além de produzir matérias especiais. Entre as premiações conquistados pela fotojornalista estão os prêmios Finep, CNT e Petrobras de Jornalismo, este último conquistado este ano.
Fábio Caffé e Márcia Foletto exibiram e comentaram trabalhos, na UFF (Foto: Lorenna Martins)
Formado pela Escola de Fotógrafos Populares e graduado em Cinema pela UFF, o convidado Fábio Caffé é integrante do coletivo multimídia Favela em Foco. Fez parte do projeto Imagens do Povo entre 2007 e 2016. O fotodocumentarista já participou de exposições coletivas ao redor do Brasil e realizou uma exposição individual na Escócia em 2011. 

Reconhecido pelo foco social de seu trabalho, Caffé falou sobre a formação do Coletivo Favela em Foco, fundado em 2009. O grupo vem registrando a vida cotidiana, as belezas, os fazeres e também as desigualdades e mudanças sofridas pela cidade do Rio de Janeiro, como é o caso da barreira acústica construída em frente à Favela da Maré. 

“O coletivo surge em 2009, por coincidência, no mesmo ano da fundação se comemorava os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Depois da fundação, fizemos essa leitura e esse paralelo com a queda do muro, pois nesse mesmo ano a prefeitura do Rio de Janeiro criava uma barreira acústica saindo da linha vermelha para tampar a Favela da Maré. A gente discute muito a intenção de esconder a favela. A ideia era que, à primeira vista, o turista não visse a Maré".
O trabalho do coletivo de 2009 até os dias atuais pode ser visto no  Coletivo Favela em Foco
Além de fotos dos coletivos dos quais participa, Caffé exibiu o curta-metragem realizado pelo fotógrafo e cineasta Léo Lima, também integrante do Favela em Foco sobre um morador conhecido da favela do Jacarezinho, o vendedor de cloro Gerci de Melo Alves. 

Fotojornalismo X Smartphones
Frente à velocidade da informação trazida pela tecnologia, com os smarthphones e a própria internet, os profissionais convidados comentaram como o fotojornalismo tem se adequado, em alguns momentos se aliado, às inovações.  

Marcia Foletto estabeleceu uma diferença entre os tipos de registros feitos pela população comum, através de smartphones, e o trabalho dos fotojornalistas. “Hoje em dia todo mundo é fotográfo. Você tem quinhentos mil celulares e em qualquer lugar que você vai todo mundo registra a cena. Agora, como você vai trazer naquela cena uma imagem que seja relevante e que não fique no primeiro plano? Esse é o nosso trabalho. Buscar essa estética que não é o que o olhar comum está vendo.”

Fábio enfatizou a importância da atuação jornalística, para além da produção fotográfica. “Eu acho muito bom ter cada vez mais gente fotografando, mas isso não vai substituir uma boa apuração. A tendência do jornalista é fazer uma apuração melhor, mas acho muito bom termos cada vez mais fotógrafos.” 

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