quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Jornalismo de dados e fact-cheking são apontados como tendências para o jornalismo na web

Por Bárbara Queiroz

O segundo dia de Controversas reuniu grandes nomes do mercado jornalístico, entre eles Fábio Vasconcellos, jornalista e, atualmente, pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, e Leandro Resende, repórter da Agência Lupa, que debateram tendências para o jornalismo na web. Na primeira mesa do dia, os convidados apontaram o jornalismo de dados e o fact-checking (checagem de dados) como importantes tendências para o jornalismo na web.
Fabrycio Azevedo, Leandro Resende, Fábio Vasconcellos e Álvaro Danezine
na mesa sobre jornalismo na web, no Controversas (Foto: Breno Behnken)
Em janeiro deste ano, a Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada pela Secretaria de Comunicação Social do Governo, revelou que o segundo meio de comunicação e informação mais usado pelo brasileiro é a internet, atrás apenas da TV. De acordo com o estudo, 50% da população se informam pela internet, a maioria pelo celular. Esses foram alguns dados abordados para ressaltar a importância dessas novas tendências do jornalismo online.

Jornalismo de dados: não foi sempre assim?

Fábio Vasconcellos explicou que o papel da audiência mudou nos anos 1990 com a internet, mas que o cenário só começou a se assemelhar ao de hoje após a virada dos anos 2000. Daí para diante, a web 2.0 passou a permitir a interação entre o usuário e o produtor de conteúdo, alterando o papel, a cultura e os conteúdos jornalísticos. Segundo Fábio, a prática do jornalismo de dados implica reconhecer que o repórter não pode fazer tudo, e ter um feedback do leitor é fundamental.
“Nós ainda estamos em um processo pedagógico de aprender a dialogar com a internet. Existe ali muita gente raivosa, às vezes é difícil estabelecer um diálogo pra direcionar ou pautar o seu material. Com o tempo, a gente observou que no jornalismo de dados a gente mobilizava pessoas críticas mais elegantes e que, em muitos momentos, era possível incorporar contribuições a materiais que estavam no ar”, disse para os mediadores Fabrycio Azevedo e Álvaro Danezine, alunos de Jornalismo da UFF.

Apesar do modelo jornalístico tradicional sempre ter sido pautado no factual, existem diferenças entre o jornalismo com dados e o jornalismo de dados:

“Nas matérias corriqueiras que a gente faz diariamente, os dados chegam tabulados, prontos, vindos de instituições nas quais a gente confia. Isso a gente chama de jornalismo com dados. No jornalismo de dados, em vez de receber as tabelas do censo do IBGE, por exemplo, você começa a observar os dados brutos, começa a ver técnicas de buscar, baixar e analisar dados brutos. Vão envolver outras competências, analítica e tecnológica, entre outras”, explicou.

Democratização da informação e proliferação das notícias falsas 

Fábio Vasconcellos (com Álvaro Danezine) falou sobre o jornalismo de dados
Apesar dos benefícios de se obter cada vez mais dados de maneira mais acessível, a democratização da informação através da internet pode acarretar problemas. Se o jornalismo “off-line” já possuía uma grande responsabilidade social e ética com a verdade, capaz construir e desconstruir reputações e discursos por conta de uma apuração mal feita, com a pluralidade de vozes na internet o perigo é ainda maior. Não se trata mais de jornalistas informando, mas do poder de noticiar um fato nas pontas dos dedos de qualquer pessoa que possua um smartphone.

É nesse cenário de democracia virtual que se intensifica a proliferação de notícias falsas, as fake news, ocasionando uma nova alternativa de se fazer jornalismo: o fact-checking (checagem dos fatos). Hoje, existem agências especializadas na verificação de dados e informações que circulam pelas redes, como é o caso da Agência Lupa, a primeira no Brasil a se especializar nessa técnica jornalística de desmentir notícias falsas. Segundo Leandro Resende, repórter da agência, o maior desafio do trabalho não está na apuração da informação, mas em como reverter o que já está sendo compartilhado.

“A gente vai lá e carimba ‘falso’, está lá, o problema é como a gente vai chegar para o cara que já compartilhou isso e dizer que é falso? Existe esse desafio”, disse Leandro. “Se uma notícia falsa está sendo disseminada, por exemplo, em um GIF, não adianta eu construir um ‘textão’ brilhante para desmentir. Você tem que saber jogar o jogo”, complementou.

Para um auditório cheio, o convidado falou sobre os dois preceitos básicos da agência que, acredita, devem ser seguidos no fact-checking e que interferiram na sua forma de compreender o jornalismo: a total transparência de fontes e a publicação de tudo o que foi usado na matéria.

“Recebi um documento. Mas de onde? Não sei. Se não tem como você dar ao seu leitor o direito de saber de onde você tirou a sua informação, não tem como publicar”, explicou reafirmando que não basta entregar os dados, é preciso apresentar a fonte e dizer como foram obtidos.

Cultura de checagem e desafios para editores

Ao final da mesa, entre interações com alunos, foi discutida a importância de se criar uma cultura de checagem que inibiria as notícias falsas, um desafio aos editores. Para Leandro, é importante que as pessoas entendam que o que está sendo veiculado nos meios de comunicação – não apenas jornalísticos – pode ser um dado exagerado, por exemplo, o que já caracteriza uma informação falsa ainda que em um contexto verídico.

“O nosso trabalho é dar a informação correta. A ideia que muita gente tem é que quando damos um ‘falso’ para o Lula é porque somos ‘tucanos’ ou que quando damos um falso para o Bolsonaro é porque somos de esquerda. Nós não somos um nem outro, mas se esses comentários estão sendo feitos é sinal de que a gente está no caminho”, afirmou Leandro.

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