Por Igor Oliveira
A mesa de abertura da 13ª edição do Controversas discutiu o
futuro do jornalismo. Depois de assistir a uma homenagem ao professor Ildo
Nascimento, que se aposenta após 25 anos de magistério, os jornalistas Gilberto
Scofield Jr., Consuelo Dieguez e Ruben Berta compartilharam com a plateia do
IACS experiências, angústias e expectativas em relação ao futuro da atividade. Pela
primeira vez, alunos de Jornalismo da UFF mediaram todas as mesas do evento, e
as estudantes Alice Pinheiro e Natália Leal foram as responsáveis pela condução
da primeira conversa.
A mudança de perspectiva na
profissão
Se em comum entre Gilberto, Consuelo e Ruben está a passagem
pela redação de grandes veículos, como jornal O Globo, a opinião dos convidados
sobre o jornalismo no futuro é que o ofício não está necessariamente
concentrado nas grandes redações. Com a redução de postos de trabalho na mídia
tradicional, eles acreditam que o futuro da profissão está na internet.
Ruben Berta, Gilberto Scofield e Consuelo Dieguez abriram o Controversas discutindo as perspecitvas do jornalismo (Foto: Juliana Martins) |
Atualmente assessor de Comunicação da Fundação de
Assistência e Previdência Social do BNDES, Gilberto Scofield lembrou o
surgimento de novas iniciativas de jornalismo independente, como a Agência
Lupa, o Nexo, a Agência Pública e o Repórter Brasil, que vêm ganhando projeção
no mercado jornalístico. Além disso, falou sobre o interesse de diversas
empresas em trabalhar com o meio digital e seus influenciadores, e destacou a importância
dos jornalistas em formação buscarem se qualificar em diferentes áreas.
Consuelo também mencionou o encolhimento de espaços tradicionais
de atuação, mas disse que ainda existe há lugar nesse mercado. A repórter da
Revista Piauí citou outras iniciativas no jornalismo que atendem a públicos
específicos, como o Jota, especializado na área jurídica, e rechaçou a ideia de
que o ofício esteja chegando ao fim. “Desde que comecei nessa profissão que o
mercado está acabando. O jornalismo não vai acabar”, disse.
Rubem Berta, que trabalhou durante 17 anos no jornal O
Globo, não vê mais as redações como projeto de vida, mas afirma que esses
ambientes podem servir como uma boa escola ao profissional em início de
carreira. O editor do The Intercept Brasil também vê a internet despontando
como espaço para novas publicações e a possibilidade do jornalista de
transmitir informações e ser visto. Para o Ruben, hoje jornalistas independentes
procuram preencher as lacunas deixadas pela grande imprensa.
A busca pelas brechas deixadas por veículos tradicionais provoca
ainda o surgimento de novas formas de se levar as notícias ao consumidor. Para
Scofield, no jornalismo atual é o storytelling, isto é, a forma como se conta a
notícia, que atrai o interesse do consumidor. Mencionou como exemplo de que há
espaço para narrativas mais longas e bem trabalhadas o sucesso recente de uma
matéria sobre o Fofão da Augusta, personagem folclórico de São Paulo, realizada
pelo jornalista Chico Felliti, do Buzzfeed. Nesse contexto, Gilberto também
deixou claro que jornalismo independente não é o mesmo que jornalismo
imparcial. Para ele, a imparcialidade é um mito. Dessa constatação surge o
jornalismo ativista, com o intuito de levantar assuntos que por algum motivo não
são abordados na imprensa hegemônica.
Declaração de amor
O momento de maior comoção da mesa ficou por conta de
Consuelo Dieguez, que encheu de esperança a plateia de focas com uma verdadeira
declaração de amor à profissão. A premiada repórter da Revista Piauí afirmou
que, apesar das dificuldades, não existe profissão melhor que a de jornalista. “É
cansativo, é pressão o tempo todo, mas também é um privilégio. A gente tá no
centro da história!”, exclamou.
Consuelo também ressaltou a importância da vontade do
repórter para a propor novas pautas e, principalmente, o esforço de apuração.
Citou o exemplo da matéria que produziu contando os bastidores do acordo de
delação premiada dos irmãos Batista, proprietários da JBS. “Jornalista nunca
pode se acomodar, tem que estar sempre ligado. Se você não tem tesão para
correr atrás da notícia, não seja repórter”, afirmou. Depois de cerca de uma
hora e meia de conversa, ao final de uma das melhores mesas da história do
evento, fica na memória dos espectadores que lotaram a sala Interartes uma
certeza: o jornalismo tem futuro.
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