quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Consuelo Dieguez, Gilberto Scofield e Ruben Berta: o jornalismo tem futuro

Por Igor Oliveira

A mesa de abertura da 13ª edição do Controversas discutiu o futuro do jornalismo. Depois de assistir a uma homenagem ao professor Ildo Nascimento, que se aposenta após 25 anos de magistério, os jornalistas Gilberto Scofield Jr., Consuelo Dieguez e Ruben Berta compartilharam com a plateia do IACS experiências, angústias e expectativas em relação ao futuro da atividade. Pela primeira vez, alunos de Jornalismo da UFF mediaram todas as mesas do evento, e as estudantes Alice Pinheiro e Natália Leal foram as responsáveis pela condução da primeira conversa.

A mudança de perspectiva na profissão

Se em comum entre Gilberto, Consuelo e Ruben está a passagem pela redação de grandes veículos, como jornal O Globo, a opinião dos convidados sobre o jornalismo no futuro é que o ofício não está necessariamente concentrado nas grandes redações. Com a redução de postos de trabalho na mídia tradicional, eles acreditam que o futuro da profissão está na internet.

Ruben Berta, Gilberto Scofield e Consuelo Dieguez abriram o Controversas
discutindo as perspecitvas do jornalismo (Foto: Juliana Martins) 
Atualmente assessor de Comunicação da Fundação de Assistência e Previdência Social do BNDES, Gilberto Scofield lembrou o surgimento de novas iniciativas de jornalismo independente, como a Agência Lupa, o Nexo, a Agência Pública e o Repórter Brasil, que vêm ganhando projeção no mercado jornalístico. Além disso, falou sobre o interesse de diversas empresas em trabalhar com o meio digital e seus influenciadores, e destacou a importância dos jornalistas em formação buscarem se qualificar em diferentes áreas.

Consuelo também mencionou o encolhimento de espaços tradicionais de atuação, mas disse que ainda existe há lugar nesse mercado. A repórter da Revista Piauí citou outras iniciativas no jornalismo que atendem a públicos específicos, como o Jota, especializado na área jurídica, e rechaçou a ideia de que o ofício esteja chegando ao fim. “Desde que comecei nessa profissão que o mercado está acabando. O jornalismo não vai acabar”, disse.

Rubem Berta, que trabalhou durante 17 anos no jornal O Globo, não vê mais as redações como projeto de vida, mas afirma que esses ambientes podem servir como uma boa escola ao profissional em início de carreira. O editor do The Intercept Brasil também vê a internet despontando como espaço para novas publicações e a possibilidade do jornalista de transmitir informações e ser visto. Para o Ruben, hoje jornalistas independentes procuram preencher as lacunas deixadas pela grande imprensa.

A busca pelas brechas deixadas por veículos tradicionais provoca ainda o surgimento de novas formas de se levar as notícias ao consumidor. Para Scofield, no jornalismo atual é o storytelling, isto é, a forma como se conta a notícia, que atrai o interesse do consumidor. Mencionou como exemplo de que há espaço para narrativas mais longas e bem trabalhadas o sucesso recente de uma matéria sobre o Fofão da Augusta, personagem folclórico de São Paulo, realizada pelo jornalista Chico Felliti, do Buzzfeed. Nesse contexto, Gilberto também deixou claro que jornalismo independente não é o mesmo que jornalismo imparcial. Para ele, a imparcialidade é um mito. Dessa constatação surge o jornalismo ativista, com o intuito de levantar assuntos que por algum motivo não são abordados na imprensa hegemônica.

Declaração de amor

O momento de maior comoção da mesa ficou por conta de Consuelo Dieguez, que encheu de esperança a plateia de focas com uma verdadeira declaração de amor à profissão. A premiada repórter da Revista Piauí afirmou que, apesar das dificuldades, não existe profissão melhor que a de jornalista. “É cansativo, é pressão o tempo todo, mas também é um privilégio. A gente tá no centro da história!”, exclamou.


Consuelo também ressaltou a importância da vontade do repórter para a propor novas pautas e, principalmente, o esforço de apuração. Citou o exemplo da matéria que produziu contando os bastidores do acordo de delação premiada dos irmãos Batista, proprietários da JBS. “Jornalista nunca pode se acomodar, tem que estar sempre ligado. Se você não tem tesão para correr atrás da notícia, não seja repórter”, afirmou. Depois de cerca de uma hora e meia de conversa, ao final de uma das melhores mesas da história do evento, fica na memória dos espectadores que lotaram a sala Interartes uma certeza: o jornalismo tem futuro.

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